Greve dos caminhoneiros hoje (04/12): o que aconteceu de fato
Data de publicação: 04/12/2025 – situação apurada até a manhã desta quinta-feira.
1. O Brasil amanhece sob ameaça de nova greve dos caminhoneiros
Mensagens em grupos de WhatsApp, vídeos de lideranças e chamadas em perfis de redes sociais voltaram a acender um alerta: uma nova greve nacional dos caminhoneiros foi convocada para esta quinta-feira, 4 de dezembro de 2025. O movimento remete imediatamente à paralisação de 2018, que parou o país por 10 dias e provocou desabastecimento generalizado de combustíveis, alimentos e insumos essenciais.

Desta vez, porém, o cenário é diferente. Até o início da manhã de hoje, o país vive mais a expectativa de greve do que uma paralisação concreta, com forte disputa de narrativa entre entidades, lideranças políticas e organizações de caminhoneiros.
2. Situação nas estradas na manhã de 4 de dezembro
De acordo com informações divulgadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e veículos de imprensa regionais, as rodovias federais do Distrito Federal e do entorno amanheceram sem bloqueios, interdições ou aglomerações de caminhoneiros até por volta das 8h desta quinta-feira (4/12).

Reportagens publicadas nas primeiras horas do dia apontam que, embora a convocação tenha sido amplamente divulgada, não houve, até então, registros de bloqueios significativos em rodovias brasileiras. A avaliação é de que o movimento se mantém, neste momento, mais forte no ambiente digital do que nas pistas, com poucos pontos isolados de concentração e sem impacto nacional relevante.
Em resumo: na abertura do dia 4 de dezembro, caminhoneiros seguem rodando e o trânsito nas principais rodovias fluía dentro da normalidade, ainda que sob monitoramento constante de autoridades e do setor produtivo.
O quadro, entretanto, pode mudar ao longo do dia, caso haja adesão crescente em alguns corredores logísticos estratégicos, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, citadas pelos organizadores como focos potenciais da mobilização.
3. Quem convocou a greve e como o movimento foi organizado
A paralisação de 4 de dezembro foi impulsionada principalmente por uma ala de caminhoneiros autônomos ligada à União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC) e a lideranças regionais. Um dos nomes mais citados é o de Francisco Burgardt, o “Chicão caminhoneiro”, que passou a circular em vídeos e entrevistas defendendo a legalidade da greve e apresentando a pauta de reivindicações.
Segundo essas lideranças, um ofício foi protocolado na Presidência da República comunicando a intenção de paralisação e apresentando uma lista de 18 pontos reivindicatórios. O movimento também conta com o apoio jurídico declarado do desembargador aposentado Sebastião Coelho, que aparece em vídeos ao lado de caminhoneiros e promete garantir respaldo legal à mobilização.
A articulação ocorreu quase integralmente pelas redes sociais: vídeos, cards e áudios circularam em larga escala em grupos de caminhoneiros e em páginas associadas a setores da direita, o que já antecipava uma disputa sobre o caráter político ou estritamente trabalhista da paralisação.
4. As principais pautas da paralisação
O documento levado ao governo federal e a comunicação feita por lideranças listam uma série de pontos que misturam reivindicações trabalhistas e estruturais com demandas de teor eminentemente político.
4.1. Reivindicações trabalhistas e estruturais
Entre as principais demandas ligadas diretamente à atividade de transporte de cargas estão:
- Estabilidade contratual para caminhoneiros autônomos;
- Reestruturação do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas;
- Atualização do piso mínimo do frete, com destaque para veículos de nove eixos;
- Congelamento de dívidas de caminhoneiros autônomos por determinado período (ex.: 12 meses);
- Aposentadoria especial após 25 anos de atividade comprovada;
- Isenção de pesagem entre eixos e revisão de regras que geram multas e custos adicionais;
- Linhas de crédito específicas para renovação e manutenção da frota;
- Reserva de parte das cargas de estatais (como 30%) para caminhoneiros autônomos.
Essas pautas dialogam com queixas antigas da categoria, como margens apertadas, custos crescentes (combustível, pneus, manutenção, pedágio) e burocracia, além da sensação de perda de competitividade em relação a grandes transportadoras.
4.2. Demandas políticas e o debate sobre anistia
O ponto mais controverso está na inclusão de pedidos de anistia. Em parte dos materiais divulgados, aparecem menções à anistia a caminhoneiros punidos em mobilizações anteriores. Em outros, fala-se também na anistia a envolvidos nos atos de 8 de janeiro e em medidas voltadas ao funcionamento do STF e de instituições públicas, o que dá um caráter político explícito à paralisação.
Esse elemento é justamente o que tem levado entidades tradicionais do setor a rejeitar o movimento, por enxergar uma tentativa de usar a categoria como instrumento de disputa político-partidária.
5. Por que a categoria está dividida
Ao contrário de 2018, quando o aumento do preço do diesel serviu como pauta única e agregadora, a mobilização de 4 de dezembro de 2025 nasce fragmentada.
5.1. Entidades que se aproximam do movimento
Associações regionais, como a Associação Catarinense dos Transportadores Rodoviários de Cargas (ACTRC) e cooperativas em alguns estados, manifestaram apoio ou simpatia pela paralisação, argumentando que a realidade da categoria é insustentável e que “algo precisa ser feito” para chamar a atenção do governo.
5.2. Entidades que rejeitam a greve e apontam uso político
Por outro lado, entidades nacionais como a Abrava e a CNTTL divulgaram posicionamentos oficiais afirmando que não apoiarão a paralisação, justamente por causa da mistura entre pautas trabalhistas e pedidos de anistia de cunho político. Essas organizações alertam para o risco de caminhoneiros se tornarem “massa de manobra” em disputas que vão além dos interesses da categoria.
A Fetrabens, federação de caminhoneiros autônomos de São Paulo, também emitiu nota esclarecendo que não convoca, não participa e não delibera qualquer mobilização relacionada à situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, reforçando que eventuais atos são de responsabilidade individual de motoristas e não de uma decisão coletiva formal.
Sindicatos regionais, como o Sindicam da Baixada Santista, declararam que não aderirão ao movimento e classificaram a pauta como majoritariamente política, e não como uma agenda exclusiva da categoria. Para essas entidades, faltaram assembleias, debates estruturados e um processo formal de decisão, o que fragiliza a legitimidade da greve.
6. Riscos de desabastecimento e impactos econômicos
Mesmo com baixa adesão nas primeiras horas, a simples ameaça de uma greve nacional de caminhoneiros gera efeitos imediatos de antecipação: aumento de demanda em postos de combustíveis, reforço de estoques em supermercados e indústrias acelerando recebimento de mercadorias.
A memória de 2018 pesa. Naquele ano, a paralisação de 10 dias provocou:
- falta de combustíveis em postos em todo o país;
- linhas de produção paradas em indústrias;
- desperdício de alimentos perecíveis no campo;
- alta temporária nos preços de itens básicos.
Em 2025, o risco de um impacto semelhante depende diretamente de um fator: adesão real nas rodovias. Se a mobilização permanecer restrita a poucos pontos, sem bloqueios duradouros, o efeito tende a ser limitado e localizado. Se, ao contrário, a adesão crescer ao longo dos dias e paralisar corredores logísticos chave (como acesso a portos, regiões metropolitanas e polos agroindustriais), o país pode voltar a viver cenários de desabastecimento em questão de dias.
6.1. Como a greve pode prejudicar o agronegócio
O agronegócio é um dos primeiros setores a sentir qualquer paralisação de caminhoneiros. A maior parte da produção de grãos, carnes, leite, frutas e hortaliças depende do transporte rodoviário para chegar aos armazéns, agroindústrias, portos e centros de distribuição.
Em uma greve prolongada, os efeitos para o campo aparecem em cadeia:
- Perda de produtos perecíveis, como leite, hortifrutis e flores, que não conseguem ser escoados a tempo;
- Interrupção de embarques para exportação, especialmente de grãos e proteínas animais, o que gera multa contratual e desgaste com compradores externos;
- Dificuldade de chegada de insumos ao produtor, como ração, fertilizantes, defensivos e medicamentos veterinários;
- Atraso em abates e processamento, pressionando frigoríficos, laticínios e cooperativas;
- Aumento do custo logístico, já que fretes sob risco tendem a ficar mais caros.
Na prática, o produtor rural pode ser duplamente penalizado: perde receita com o produto que não sai da fazenda ou desvaloriza no pátio, e ainda vê subir o custo dos insumos que precisa comprar para manter a atividade.
Em regiões fortemente dependentes de exportação, como áreas produtoras de soja, milho e carnes, uma paralisação em época de escoamento de safra ou de entrega de contratos pode comprometer todo o planejamento do ano, afetando cooperativas, tradings e pequenas propriedades ao mesmo tempo.
6.2. O impacto no bolso dos brasileiros
Toda vez que a palavra “greve dos caminhoneiros” volta ao noticiário, o brasileiro já sabe onde pode doer primeiro: no bolso. Mesmo antes de qualquer bloqueio efetivo, o simples risco de desabastecimento faz alguns preços começarem a se mexer.
O efeito mais rápido costuma ser:
- Combustíveis mais caros, seja por aumento de demanda nos postos, seja por reajustes pontuais em regiões com dificuldade de reposição;
- Alta em alimentos frescos (legumes, verduras, frutas, carnes e leite), que dependem de transporte diário;
- Aumento no frete, que é repassado para o preço final de tudo que é transportado por caminhão;
- Pressão sobre a inflação, já que o Brasil é altamente dependente do modal rodoviário para abastecer supermercados, farmácias e comércios em geral.
Na prática, mesmo quem nunca subiu em um caminhão sente a greve no orçamento mensal. A soma de combustível mais caro, supermercado pressionado e serviços encarecidos corrói o poder de compra, especialmente das famílias de renda mais baixa.
Se a paralisação se alonga, o impacto deixa de ser pontual e pode virar efeito dominó: empresas reduzindo jornadas, atrasando entregas, suspendendo produção e, em casos extremos, cortando turnos e demitindo funcionários para tentar equilibrar o caixa.
Por isso, uma greve de caminhoneiros nunca fica restrita às estradas. Ela começa afetando o agronegócio e a logística, mas termina aparecendo na etiqueta do supermercado, no preço do combustível e no custo de vida de todo brasileiro.
7. O que empresas, produtores rurais e consumidores podem fazer hoje
Mesmo com o quadro ainda incerto, há medidas práticas que podem reduzir riscos, especialmente para quem depende diretamente do transporte rodoviário.
7.1. Para produtores rurais e cooperativas
- Monitorar diariamente PRF e entidades do setor, em vez de se basear apenas em redes sociais. Isso ajuda a diferenciar boato de bloqueio real.
- Rever agenda de colheita e embarque para produtos perecíveis, evitando concentrar muitos carregamentos em um único dia ou rota crítica.
- Negociar com transportadores cláusulas de flexibilidade de prazo em caso de interdição comprovada de rodovias.
- Planejar estoques de insumos (rações, fertilizantes, medicamentos veterinários) para alguns dias a mais de segurança, sem entrar em pânico ou “estoques de guerra”.
7.2. Para indústria, varejo e logística
- Mapear rotas alternativas de abastecimento e distribuição;
- Priorizar cargas críticas (alimentos, medicamentos, insumos essenciais);
- Comunicar clientes e fornecedores de forma transparente sobre eventuais atrasos;
- Avaliar transferência de volumes para ferrovias ou cabotagem, quando existir essa possibilidade.
7.3. Para consumidores
- Evitar compras exageradas por medo, que alimentam escassez artificial;
- Abastecer o veículo de forma planejada, sem correria nos postos;
- Acompanhar fontes confiáveis antes de compartilhar informações sobre “falta de tudo”.
8. Linha do tempo: como a mobilização chegou a 4 de dezembro
A convocação desta quinta-feira não surgiu do nada. Nas últimas semanas:
- Fim de novembro: vídeos de lideranças prometendo “paralisação histórica” começam a circular em redes sociais;
- 30/11 a 02/12: sites especializados e veículos do agro passam a noticiar a confirmação da greve para 4 de dezembro;
- 02/12: entidades como a Fetrabens e lideranças tradicionais divulgam notas oficiais negando adesão e criticando o uso político da pauta;
- 03/12: grandes portais mostram a divisão da categoria, com sindicatos regionais dizendo “não” à greve;
- 04/12 (manhã): PRF e imprensa relatam ausência de bloqueios significativos, ao mesmo tempo em que vídeos seguem convocando a paralisação.
9. Cenários possíveis para os próximos dias
A partir da fotografia desta manhã, alguns cenários se desenham:
- Cenário 1 – movimento esvazia: sem adesão nas rodovias, a greve perde força e se limita a protestos pontuais, mantendo o fluxo de cargas praticamente normal.
- Cenário 2 – paralisação localizada: alguns trechos importantes sofrem bloqueios temporários ao longo do dia, causando atrasos regionais, mas sem um “apagão” nacional de transporte.
- Cenário 3 – adesão crescente: caso entidades hoje contrárias mudem de posição ou a pauta seja reorganizada em torno de demandas mais amplamente aceitas, a mobilização pode ganhar tração e recriar um quadro semelhante, em menor escala, ao de 2018.
Em todos os cenários, a chave é a capacidade de articulação da categoria em torno de uma pauta clara e legítima – algo que, até o momento, não se consolidou.
10. Conclusão: entre a memória de 2018 e a realidade de 2025
A greve dos caminhoneiros convocada para 4 de dezembro de 2025 expõe, ao mesmo tempo, a força e a fragilidade da categoria. A força, porque qualquer ameaça de paralisação assusta governo, empresas e consumidores. A fragilidade, porque a mistura de pautas trabalhistas com demandas políticas dividiu entidades, esvaziou a adesão e gerou enorme ruído de comunicação.
Até a manhã desta quinta-feira, a realidade nas estradas é de trânsito fluindo e baixa participação em bloqueios, apesar do barulho nas redes. Mais do que nunca, acompanhar fontes oficiais e imprensa séria é essencial para separar fato de boato e tomar decisões com menos emoção e mais informação.
Para produtores rurais, transportadores e empresas de toda a cadeia logística, o recado é claro: planejar, diversificar rotas, fortalecer contratos e, principalmente, aprender com o passado para não ser pego de surpresa, seja em uma greve que se esvazia, seja em uma paralisação que, de fato, ganhe força nos próximos dias.
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